A indústria de autopeças nacional prevê fechar o ano com um déficit na balança comercial de US$ 8,8 bilhões. O desequilíbrio entre exportações e importações é apontado pelo Sindipeças, que representa as fabricantes nacionais, como um grave problema de competitividade e, por isso, as montadoras e sistemistas têm substituído peças nacionais por importadas, com preços melhores.
Para resolver toda a problemática que envolve o setor, a entidade negocia com o governo uma fiscalização rigorosa sobre a nacionalização dos veículos fabricados no país e um programa específico chamado Inovar Peças, complementando ao já definido Inovar Auto.
O Inovar Auto é um conjunto de regras que o governo federal determinou para que as montadoras e importadoras escapem do aumento no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) determinado em 2011. O objetivo é que o Brasil tenha carros mais eficientes, com menos emissão de poluentes e preços mais baixos.
A estratégia da versão para a indústria de autopeças é aumentar a escala e receber incentivos para aprimorar a produção e, assim, reduzir custos.
O mais urgente para a entidade é o mecanismo de rastreamento do uso de peças nacionais, que tem sido debatido com a Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Para a indústria de autopeças, é a única forma de controlar a porcentagem de conteúdo nacional dos sistemas automotivos fornecidos para as montadoras.
Entretanto, a tal fiscalização sobre o conteúdo nacional dos carros tem sido adiada, o que preocupa a indústria de autopeças. “O rastreamento era para ter começado no dia 31 de maio. Já passou para 31 de julho, mas ouvimos da Anfavea 31 de agosto”, afirma o presidente do Sindipeças, Paulo Butori. “Para a montadora é um comodismo, por não prestar conta para ninguém.”
A Anfavea confirma que discute a medida com o sindicato das fabricantes de autopeças, mas diz que não há data para ser implementada.
Pelas novas regras do Inovar Auto, ficam isentas do aumento no IPI as empresas que atingirem metas como o aumento do uso de conteúdo local e da eficiência energética — as fabricantes de carros precisam utilizar 60% de peças feitas no Brasil. Segundo o Sindipeças, as montadoras e sistemistas têm sido resistentes ao rastreamento, especialmente as asiáticas, que trazem muitos fornecedores de fora para seus parques industriais no Brasil.
“Se um fornecedor passasse uma informação errada sobre os componentes, a montadora seria autuada, proporcionalmente ao tamanho da empresa. Tem que se copiar o modelo do Nafta (North America Free Trade Agreement)”, afirma Butori, sobre a necessidade de proteger toda a cadeia de produção nacional de autopeças.
Investimentos
O Sindipeças alerta ainda que as empresas no Brasil investem, mas têm baixa lucratividade. “Em qualquer outro lugar do mundo, os preços são muito mais baixos, porque eles são mais competitivos”, destaca Butori.
“Enquanto as montadoras falam investimento de US$ 22 bilhões para os próximos cinco anos, nós (autopeças), falamos de US$ 8 bilhões. Estamos muito aquém da necessidade, porque não temos rentabilidade para investir mais”, explica o presidente do sindicato patronal, referindo-se às empresas nacionais que não foram adquiridas por grupos multinacionais.
Impostos para a indústria de autopeças
Sobre a composição de preço dos produtos, Butori voltou a criticar os impostos e, sobretudo, as alíquotas de importação de matéria-prima, que muitas vezes são maiores do que o produto com valor manufaturado agregado. “Isso acontece com o aço”, exemplifica.
Capacitação da indústria
O Sindipeças lançou nesta quinta-feira (13) o Instituto Sindipeças de Educação Corporativa, para a capacitação de profissionais, para elevar a sustentabilidade e a competitividade das empresas locais.
[G1]